domingo, 4 de outubro de 2009

(r)


THIS IS THE END

my trend

domingo, 20 de setembro de 2009

(q)


FÉRIAS

foi criada a palavra para induzir quem trabalha de que tem a compensação pós esforço, ou seja, acaba por se assumir como uma gratificação falsa, porque nos leva a programá-las constantemente antes de as ter, a lutar por as materializar em tê-las, a preocupar-nos com o seu fim enquanto as temos e a lamentá-las quando já passaram e as tivemos!

e assim cíclica e interminavelmente até às próximas. e é falsa porque falha precisamente aquilo para qual elas foram desenhadas e que nunca teremos realmente depois de tanta azáfama com a sua criação: o relaxamento.

prefiro prescindir de férias estabelecidas e rumar por aí livre ao doce apetecer.

(p)


CHEGUEI

cheguei de lá e logo te vi, abracei-te contente mas ainda incrédulo com a facilidade de toque depois de tempo passado sem te tocar (como se me visse abraçando-te e não intervindo também nesse abraço).

a distância que se cava entre eu e o outro, entre ti e mim, entre nós e vós, entre todos; mede-se em quilómetros, mede-se em meses e balança entre encontros esporádicos e prometidos que desaparecem em novas medições.

a plenos pulmões gritaria que a distância é na cabeça de quem acredita de que isso é importante e de que isso é real, mas guardo para mim, impondo-me um grito de dentro pois apercebo-me de que o teu riso talvez seja diferente ou foi sempre assim, ou eu o fui esquecendo e agora é-me levemente estranho e talvez então esse distanciamento seja autêntico.

nunca choro em despedidas nem em chegadas, nunca me intimido nem como uma nem com outra, nunca me emociono com esses momentos. acredito sempre em até já e por isso vejo como ridículo outro comportamento que não seja o do vejo-te em breve, cuida-te e falaremos, mantemos o contacto, quero-te aqui e eu vou lá visitar-te.

que palavra mais feia, a partida. usada como eufemismo para a morte é das mais bonitas homenagens, mas usada assim ao desbarato para marcar o momento em que te vais ou que me vou, só pede que a deixe cair e nem a use. nunca a partida é uma estação de saída mas sempre de chegada também. é uma porta giratória em que a uma volta completa, te vejo por aqui outra vez.

não lhe chamemos partida, chamemos-lhe trânsito. chamemos-lhe percurso, chamemos-lhe já volto.

(o)


O Ó

resposta a divagações de maio,

não é necessário que te justifiques, não preciso de explicação, desse esclarecimento - eu sei que não sou eu a origem de algum (desse) dissabor já passado, sei que não! caminhamos lado a lado de tempos a tempos, amizade próxima se bem que algo distante fisicamente e sim, nada que se faça pode causar embaraço a esse percurso interrompido de presença esporádica aqui e ali - dias esplanando, rindo amigos sorrindo bebendo tranquilos. seguimos animados assim - se bem que algo insuficientes pela separação de facto.

como chamas a essa ausência de mim? de nós?

matutas demasiado - como eu - matutando matutino vespertino sempre! somos da massa base de gente pensadora e criadora: sempre tão presentes quanto ligeiramente angustiados! beijo numa qualquer axila! conversa de amigo!

(n)


AI

ai ò linda, uma imagem vale mesmo mais que mil palavras? ou a palavras colam-se às imagens, as imagens preenchem uma história, as palavras adiantam uma imagem, apresentam uma imagem ou nem por ela são acompanhadas?

se te conto algo não estás já dentro da história, sem necessidade de complemento de uma qualquer imagem, cria-se esta dentro da tua cabeça, visualizando o que te conto? para mim mais que uma imagem é o gesto, o olhar, a boca, a face, a tentativa, tudo mais importante ainda que uma imagem ou uma colecção inteira de letras amontoadas

(m)


RESPOSTA À RESPOSTA AO Q

o vício não é um remédio para a saudade, é apenas um entre tantos calmantes para essa falta, mais um que nos embala dessa ausência e sim, a saudade necessita de medicamento, de paliativo, dependendo do que sentes falta, pessoa, momento ou país; existe uma hierarquia de saudade, existe! e consome-nos sempre, sim, estará sempre presente, fantasma do antes.

saudade é um espectro demasiado vasto para que a resumas sob o nome de doença - mas é também uma doença e a nossa saudade, a saudade do povo luso é a nostalgia total, não a mísera te hecho de menos espanhola ou homesick inglesa, tão estreitas e simples! a nossa é de alma e da carne junto ao osso e do osso todo, de vísceras e de tutano! é um estigma judaico que nos acompanha em culpa de merda! é necessário expulsar estas culpas e estas ausências.

agora a outra saudade, essa de gente querida que se nos ausenta por meses, essa é extinguível! basta reencontrar-te aqui junto a estes braços embalada em abraço longo. eu anestesio-me porque sou assim mesmo e por vezes a nostalgia serve-me como outro pretexto - esta melancolia que em português se confunde e intersecta com saudade.

atrevo-me a dizer que saudade é muito mais vasta do que qualquer saudosismo, melancolia ou nostalgia, junta-as todas e é a palavra mãe ou pode ser pequena, só para ti, com esse desejo de voltar.

(l)


ENSAIO AOS VÍCIOS

escrevo agora como em jeito de catarse, sabes como gosto de testar o kerouac, esta prosa espontânea de carne e de vísceras e de dedos matraqueando o teclado, escrevendo acompanhando a velocidade dos impulsos eléctricos que se me derivam do cérebro pelo corpo abaixo por estas tentaculares terminações dos membros superiores até ao movimento das falanges em amontoado de letras. tentarei não me subjugar ao lápis azul, ou seja, não voltarei atrás a corrigir seja o que fôr. não farei revisão não. serei um lobo antunes sem qualquer tipo de pontuação, serei um saramago em correria de frases e de diálogos. mesmo não existindo estes e sendo aqueles os que sobrevêm.

tentarei escrever neste broki, e daqui em diante, adiante, sempre em jeito de correr, sempre em correria desenfreada sem revisão aposta, desafiando-me, desafinando-me, afinando-me, testando-me, compreendendo-me mais e mais.

pego naquele texto esperado, naquele tema vicioso passado para que me exponha, para que disserte um pouco em ensaio pouco regular, em ensaio de ocasião, em prótese de agora, de supetão, como ensaísta viciado em letras, como viciado de café, de cigarro e de muito mais que tu sabes, letrista. escriba escriba escriba.

victor hugo tinha o café, byron a sua coca, borroughs tinha tudo, pessoa o seu ópio, eu tenho vicíos e uma pretensão de os juntar a uma consagração de letras. a um juntar vicío com prosa, prosa com poesia, poesia com ensaio, ensaio com peças, peças com a vida, a vida comigo, comigo contigo.

o vício é solto, o vício é necessário, o vício é chama, é flamejante, é contributivo, é uma paixão desmedida, éo vício pela vida, é o defeito de ser humano, é o ser humano, é a dose certa em ocasião de respirar, é o adormecer da ansiedade, é o despoletar das ansiedades, é o necessário antídoto para o frenesim, é o medicamento para a saudade, é o que quero agora e sempre, é o que tens também em doses catadupas e astronómicas, o teu vício e o meu, em sucessão e compreensão. dose dose. doseia. acrescenta e fere.

astronomia, planeta cigarro.
astrologia, ascendente café sobre chávena.
cardeologia, bate bate o coração por outra cerveja cerveja.
vedor, procuro com este apetrecho o melhor em mim de mim.
música, tlim tlim copo com copo, soprando na garrafa, fumegando, orquestra contínua de noites ao desafio.
actor, teatrealizo em teatro de gesto muitos movimentos não meus.
circense, orgãos malabares ruminantes, mesquinhos mesquinhos.

sou o anesteologista médico de mim próprio, tomo-me um cigarro agora mesmo, fixando-o entre os lábios para que sim, aspirando a nicotina e a podridão para de dentro de mim, decaíndo a momentos e pausas. apanho uma cerveja e trago-a sobre a boca, esófago lentamente escorregando, cevada, lúpulo e malte, balbuciando gluglu. cigarrilha lentinha fumegando, comida acompanhando. colesterol ao alto, sexo frenético de cama e tudo, sempre sempre. perco a gordura que fui ganhando em exercícios de lençol.

chega? preenchi-te? preenchi-me a mim, não o sei, talvez, lerei o discurso verborreia daqui a uns dias a ver se se cumpre. não me quero prolixo nem em tautologia existindo. quero fazer-me como um gonçalo m tavares ou um gedeão.

lerei isto depois, lerei. esqueci-me do motivo mas procuro o objectivo para o verborrear. despeço-me com um beijo grande de aqui até aí, em bazzooka suave e contínua de arremesso de beijo, puff puff, já estou.

(j)


RESPOSTA A 
'Take me as I am'

Como? Perdão?

Quem é o derrotista que te fala assim, o derrotista, o pessimisma, o conformista, o acomodado?
Quem é o tal que te desnorteia assim desta maneira sem o saber tão falho de intervenção, sem se aperceber de tão fraca que é a sugestão?
Quem é, quem foi?
Quem não é, quem não o é, quem o deixou de ser?
Quem já foi porque não era?
Quem se perdeu assim para ti?
Quem te perdeu?

Esse não é um conselho, não é uma contribuição, não,
É um desmotivar, uma seca perdição, um grito de não que precisa de contra-grito de sim!
É uma simbiose, um mimetismo com o que já existe!
É um não existir como ser humano, que sempre pula e avança e que precisa de sempre pular e avançar em constante rotação de nós!

Linda, não te conheço como tal,
como 'a' conformista,
sei-te muito mais que isso, muito mais que isto, capaz de muito mais,
portanto,
mais do que a pequena atoarda que escreveste, sugiro outra intervenção,
uma mais capaz e castigadora,
sugiro que digas
do fundo dos teus pulmões,
em cavernosa sonoridade puxada ao fundo das tuas vísceras:

Vai à merda!!

(i)


RÉPLICAS

réplica ao 'apagão mundial' ou abalo premonitório de consciência ambiental
querida m, contribuirás?

eu adoraria, mas supondo que me esqueço terei talvez que deixar aviso no meu telemóvel movido a bateria carregável electronicamente ou deixar alarme na minha agenda neste portátil de onde te respondo agora ou ainda talvez o veja anunciado na televisão ou o oiça na rádio!

devemos reflectir sobre toda a nossa dependência para com as máquinas e meditar no estado absoluto do ser humano: carne, água e ar e o equilíbrio com o nosso envolvente. gosto muito destas iniciativas e irei participar, manifesto-me em mim!
dia 29 estarei com as luzes apagadas, jantando à luz de velas!

(h)


PENSADO ACORDADO E A DORMIR;
PENSANDO EM DORMIR, SONHANDO ACORDADO

(ai como eu adoro o gerúndio!)

retenho algumas poucas palavras do teu pequeno texto de quase sonhado - momentosonhado - para que construa algo também da minha parte, amontoando termos em frases de momento (pratico agora esta prosa espontânea de que te falava, o texto de improviso sem rede é imediato, irreflectido, efusivo, rápido, bruto, sentido, intuitivo...).
algo que evoque levemente o teu textículo de supetão. 

decidi-me por 5 palavras escolhidas não muito ao acaso (são para mim as mais apelativas): criança, lágrima, menina, quarto e escuridão. 

pego nestes ingredientes em letras compostos e preparo uma receita qualquer de um escrito ao desafio. 

criança menina num quarto pleno de escuridão e a sua lágrima sobrevem. nesse quarto escuro a menina soçobra e rodopia por atenção e por afeição, lágrimas escorrendo por ela afora. menina menina criança talvez cada vez mais adulta, lágrima solta e sempre caindo, será cada vez mais e mais mulher até se notar crescendo e já crescida. lágrimas tantas e mil, formando um rio. porque choras? porque não ris? desenho-te uma janela nessa - numa dessas - paredes desse teu quarto para que se te abra o horizonte feliz e luminoso. solarenta presença da luz, comovedora, doce, suavizando-te a face para que se te desenhe um sorriso. parece-me cada vez mais dilatado esse pequeno quarto cubículo, essa cinzenta divisão de poucos sonhos realizados e muitos outros montados. sonha-me vendo-te e crescendo. beijo certo.

perguntas a voar até aí :

quem é a pequena criança, a quem ou o que representa? que casa, que quarto, que escuridão? que 'tua' mensagem é essa do fim? 

e outra coisa: já viste o que uma vírgula te faz ao sentido do texto? vê aqui: 'Obrigado, amo-te, até sempre...'querias isto assim como está, triste e esperançoso ou assim, evocativo : 'Obrigado, amo-te até sempre...'?

Ou testa isto, prolongando o momento de pausa: 'Obrigado, amo-te; até sempre..' ou assim 'Obrigado, amo-te... até sempre...'

r

(g)


ACRESCENTO 

ou adenda a uma porra que me leve
(acrescentamento a uma posta abaixo sobre concertos)!

estou em fúria e em ebulição, destrutivo eu!
descobri que esgotaram todos os bilhetes para Portishead!
grrrrrr!!!!
apetece-me gritar até os oceanos se esvaziarem todos!
até se revolverem as terras todas e revelarem algo mais que húmus!
até que me surja um vulcão por debaixo de mim e se insinue, sulcando a Terra!
aiiiiiii :(

(f)


LÍRICA ESPONTÂNEA,

andamento 1,
das novidades.

pedias-me novidades,
novas de mim
queres que tas dê?
queres te informe?
queres que me noticie?
queres que me mostre?
queres que me demonstre?
queres que me insinue?
queres que me?
queres me que?
me quer,
queres me
queres
me queres
querer
me quer,
me querer
requerer
por querer
por que
porquê
para quê?
porque!
por quê?
para
que
quê
quem
que
q
bá!

isto não é um silogismo, mas mais um devaneio de mim
extenuo-me por aqui, não me extingo, quero revelar-me a ti, novamente
se de novas precisas, novidades te dou
basta um pequeno detalhe, um pequeno toque de amiga
um pequeno ensaio, uma pequena fagulha
uma pequena centelha, um pequeno preparo,
um eterno guisado, nunca desaguisado
um pequenina faísca
para que me abra todo para aí, para me refrescar de coisas feitas
dando-te todas estas alterações, rebates de ocasião
e de improviso que tenho feito
que tenho tido, fogo fátuo menino,
sou eu sou eu
eterno rio solto de margens
dilatado espraiado por meandros
e mais
meandros
de coisas de caminho

basta que me ligues
e dar-me-ei todo,
todas estas essas novas
a ti, total!

beijo
r

(e)


LOISAS

double triple smile

Não sei o momento exacto em que foi planeado este, não me recordo em que circustâncias o delineámos, não sei o episódio, não recordo a conversa, não se me fixou um manifesto, não se me prendeu o motivo, a razão, o querer de, o querer para, o de, o para, o porquê, o então, o para onde e para aonde, não me lembro não.

Não adjectivo um momento, não tenho um predicado que o triangule, nem uma preposição ou advérbio por aqui anda!

Fica a conversa solta de temas ao acaso escolhidos, entre nós - conversa de café em frente a uma pantalha! Gostinho bom conversar assim!

Ópera de mim, a escrita, a palavra ao alto, o texto entre ti e mim, esta palavra que brota sempre e me serve e de que me sirvo, assim, cru, aos meus amigos como tu.

Testamento de mim, o lastro que vou deixando em conversas contigo.
Palavra de mim, palavra de mim, verbo de mim, converso por aqui contigo e converso. Verso, estrofe, vai um poema também?

Deixo-me à rédea solta assim, descrevendo-me aqui para ti e para outros - partilhando-me.

Ensaio pensamentos em spontaneous prose (d'aprés Kerouac), espraio-me todo por aqui.

Sabe-me sempre bem isto, para que me sobrevenha a vontade sobre a distância entristecedora do momento.

(d)


PERDA

(resposta a : ??)

Essa dor de que falas nunca desaparece, nunca se vai, apenas arrefece, apenas se te entranha e se toma como toda tua; tu a vais acolhendo e convivendo com ela. Não há regras no momento do encontro com a morte, como podes saber como irás reagir? Não existe uma cartilha ou um modelo de comportamento... basta deixares-te ir, reagir instintivamente, apenas. Temos que aceitar que esse momento será final e que virá a qualquer momento, mas mesmo com essa racionalização, é escusado: irás sempre sofrer. E existe esse pior momento de ver uma pessoa em decadência à nossa frente, eu conheço isso bem e lidei com isso mal. Cresce, aceita e telefona-me, se precisares. A morte não é reconfortante, temos é que confortar a pessoa de que gostamos e que mingua à nossa frente.

(c)


OF FRIENDS AND FOES

de amigo e de inimigo todos temos um pouco, segue este ensaio para te (pre)encher o pensamento e responder à posta 'friends'

Tanta questão sobre a verdadeira amizade, tanta! Tentarei responder usando a minha própria experiência dos amigos a quem chamo verdadeiros, autênticos, sempre presentes aqui, íntimos e meus. Nunca lhes levo a mal nada do que digam mesmo que me perturbem. São dois, somos três e distanciam-nos milhares de quilómetros entre uns e outros, mas quando é necessário sempre comunicamos, sempre falamos. Um Amigo existe sempre, meses e meses depois de ausência de conversa - serve-se melhor ainda a refeição das novidades e do refrescar de coisas que fizemos. Quando existe algum problema, sempre se arranja maneira de comunicar e assim, partilhá-lo e o definitivamente resolver. Um amigo autêntico não tem que ser do quotidiano, para isso tens-te a ti, a vogar contigo sozinha - não solitária - sozinha. Mas isto sou eu e os meus amigos, cada um dos meus braços e todo o meu sentimento, isto sou eu que sei e que sou.

Deixo-te uma questão, se para esses teus so called friends, uma conversa e uma partilha ficam pela metade, achas mesmo que lhes podes chamar d'Amigos?

(b)


WRITER'S BLOCK BLOQUEIO DO ESCRITOR

Se porventura o bloqueio surgir, é usá-lo como ferramenta de trabalho, como combustível de criação, como chama e matéria, fogo fatúo motivo, instante parado instante crescente, pulo salto andante, momento de aprendizagem e de crescimento; fazer funcionar essa tragédia momentânea ou talvez perene, tomá-la catalisadora alimento de outros, nunca esmorecer, ser Anto e Sebastião da Gama! Falar de aqui e agora, do que rodeia o escriba nesse instante, usar essas armas e então surgirá, certamente, desse impasse agridoce, produtos mais que deliciosos desse instante deserto e incolor!

PS post scriptum :: shouldn't this blog become a bilingual one? what do u think?

(a)


13 DE JANEIRO DE 2008, 
17:49

Começo isto hoje, cumprindo uma ideia que já vinha desde há muito e pegando nessa ideia romântica e ingénua de diário da adolescência que mantive ainda durante um ano e que até foi a primeira coisa que escrevi, imberbe e interrompido 1. Não vejo como necessária outra introdução, qualquer prelúdio, prefácio, não vejo. Querida Kitty 2 ou algo. Não.Escrevo aqui e ali e deslindo-me sobre uma folha de papel - sobre uma pantalha assumida folha, talvez que esta me sirva como última expiação, como auto-análise necessária e finalmente sincera, como catarse a frio e a quente à vez, como mostruário de monstros expostos, enfim.

Retomo este diário, relendo o primeiro passo e lendo-o apercebo-me que tenho que escrever mais e ser mais e criar mais e em tudo ser mais e melhor. Escrevo isto agora ao estilo de spontaneous prose como postulava Jack Kerouac.


Suponho que tenha que ser mesmo assim, a tentar exceder-me sempre continuamente e também a desanuviar aquele caminho que Lady Saara - essa outrora minha Ansara - dizia que eu tinha ainda que percorrer: o meu Rumo. Este Rumo.

Acompanho sempre a palavra com o cigarro e com o café e espero no final disto tudo que se tenha extinguido o homem cigarro, este homem cigarro, eu. Procuro disciplina em complemento ao meu próprio bem estar. E hoje não existo, hoje escrevo, hoje compilo-me e digladio-me, como sempre aliás.

Fico sempre assustado com o que me pode acontecer quando saio à noite – parece-me uma roleta russa constante, mas também me agrada o que posso trazer comigo consoante o que encontre. Se certeira é a bala, também o tambor e o cão e tudo será não prescindível, pois contribuíram para a função. Terei que percorrer mais para que mais me aconteça ou manter talvez apenas e como sempre aliás, os sentidos bem despertos e tudo então captar e absorver. 

Adiante avante!

1 Era tão rudimentar, tão puro! Ainda me recordo de o escrever sobre o fundo azul do MSDOS! 
2 Diário de Anne Frank, Anne Frank